Então já não regressa ao Brasil, porquê, É difícil responder, não sei mesmo se saberia encontrar uma resposta, digamos que estou como o insone que achou o lugar certo na almofada e vai poder, enfim, adormecer, Se veio para dormir, a Terra é boa para isso, Entenda a comparação ao contrário, ou então, que se aceito o sono é para poder sonhar, Sonhar é ausência, é estar do lado de lá...
O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago

[Post alterado*]

Olho para o relógio: meia hora deve dar. Mas meia hora dava de certeza se já estivesse na estação! Não, dá sim! Dá se for em passo rápido. A M*** acompanha o meu passo e chego a horas. O relógio parece querer gozar comigo e insiste em acelerar. O meu passo não consegue acompanhar os ponteiros, ficando pasmado a olhar para o semáforo. Turn green... turn green... Passo acelerado. Evito correr. Desço as escadas rolantes. Assalta-me a imagem da Rita a torcer o pé, a cair pelos poucos degraus que lhe restam. Acho que por pensar tanto nestas coisas supérfluas perdi o metro. Pela primeira vez torno-me naquelas pessoas que ficam com cara de tontas a ver as portas fecharem-se mesmo em frente. Imagino o rapazinho de dentro da carruagem a rir-se...

A viagem de metro está longe de ser tranquila. E o meu relógio gasto de tantos olhares que lhe mando. Vou ter que correr. E fui. Só desejava não encontrar ninguém conhecido. Pior: que não encontrasse ninguém desconhecido mas conhecido ao mesmo tempo. Enfim, já nem pensava nisso. Queria chegar. Revi por momentos o meu trajecto desde o edifício em câmara rápida. Figuras... "Figuras de otária" como o meu querido Mi*** diria... Mi***... Já tenho saudades dele. O que estaria ele a fazer naquele minuto? E o que estará a fazer agora, neste preciso momento em que escrevo?

Perdi o bus. O que faço com estes minutos de espera? Pensar apenas no Mi*** parece-me excessivo... ele não é meu namorado. Começo-me a rir sozinha. Que parvoíce, Rita! Sou capaz de ficar mais tempo a pensar nele sem querer isso siginificar nada. Normal. Penso e esboço um sorriso. A Senhora do café olha para mim talvez pensando que estaria a sorrir para ela. E mais um café. Começo a ficar viciada nesta rotina da cafeína. Olho para o relógio e ainda faltam 10 minutos...